domingo, 10 de junho de 2012

O COMENDADOR ALIBERT

À MEMORIA DO SAUDOSO COMENDADOR
FIRMINO FRANÇOIS ALIBERT
NO TRIGÉSIMO DIA DO SEU PASSAMENTO
A redação

        A homenagem que nosso pequeno hebdomadário presta, hoje, a Firmino Alibert é justa,é merecida,  porque ele foi, durante sua longa vida, a brandura, a lealdade, a tolerância, a misericórdia e o amor
        Todas as jaças que sua alma pudesse ter, desapareceriam diante deste esplendor: a humildade e a bondade, estema que lhe circundava a fronte como a de um apostolo. Quantos inimigos? Não os conhecemos! Quantos amigos? Que Deus o responda, somando as preces ardorosas que ascendem, extremes e incessantes, a seu Trono de Luz! Foi um esposo modelar: conhecemo-lo na intimidade de sua casa, pobre, mas alegre, humilde, mas honesta.
        Foi um pai afetivo e carinhoso: afirma-o, melhor que nós, o amor e respeito que lhe tributavam seus filhos. Foi um cidadão digno de suas duas pátrias gloriosas: a França e o Brasil. Se o homem perpetuasse a bondade nos bronzes, Alibert mereceria esse prêmio.
        Firmino François Alibert nasceu no dia 25 de julho de 1834, em Terrascon,  departamento de Dordogne, na França. Era filho de Antonio Al...... e de D. Maria Alibert.
        Veio para o Brasil com a idade de 27 anos, casando-se aos 65 com D. Germana Dezon. Durante os 55 anos que viveu no Brasil visitou 14 vezes a Europa, percorrendo-a quase, se não toda, e trazendo de lá várias famílias que trabalharam em sua fazenda e aqui depois se estabeleceram.
        Faleceu com 81 anos de idade, feitos aos 25 de julho do corrente ano. No antigo regime, foi amigo intimo dos principais homens políticos brasileiros, gozando também de grande influencia própria: na gestão dos negócios públicos do país.
        Eis, por deficiência de outros dados no momento, os traços principais do saudoso Velhinho para quem exortamos a Deus todas as graças.

SAUDADE
XX—XI—MCMXV
Affonso Leite

        Ao meu pranteado amigo, Comendador Firmino François Alibert, que, na sua passagem por este planeta, soube cumprir o seu dever, perante Deus e a humanidade; que foi um chefe de família exemplar, cujo caráter foi ilibado entre os mais puros; que foi um cidadão, um patriota, na expressão rigorosa desses vocábulos, cujo espírito clarividente agia sempre sob o influxo da mais lídima justiça; que foi um resignado, um confortado, em cujo intimo nunca a vaidade e a soberba tiveram guarida; que foi um generoso na opulência e um caridoso na adversidade, cuja valia estava á disposição dos desprotegidos da sorte; que foi um amigo leal e sincero, cujo coração magnânimo jamais mediu distância ou sacrifícios para beneficiar; a este amigo consagro nestas linhas o meu profundo pleito de veneração, respeito e saudade.


AO BOM VELHINHO
J. Paixão.

        "Je ne cherche pas la mort, mais, quand ele viendra. j'aurai beaucoap de plaisir"
        Eis uma frase predileta de Alibert, o velhinho adorável sobre cuja memória hoje desfolham as nossas imorredouras saudades.       
          E, como ele a enunciava, quão poucos serão capazes de o fazer!
        É que nesta sentença está feita a análise do crente fervoroso e do hora em triunfante das injustiças e das agruras do mundo.
        Alibert possuía os veros predicamentos que constituem o filósofo: a paciência, a coragem e o amor à justiça. Ele substituiria perfeitamente Lateranus diante de Nero.
        Deixou a seus filhos um tesouro: o exemplo edificante de uma vida proveitosa. Possuiu largos haveres pelo trabalho, mas foi generoso; soube dar ao dinheiro o único valor que ele tem: o de ser útil. Foi sempre a mesma alma de eleito, quer moço, e na opulência, quer decrépito, e na pobreza. Foi um cavalheiro, porque ele compensou, não só as doze virtudes exigidas por S. Pelaio, mas ainda: a tolerância e a consideração para com os sentimentos e opiniões dos outros, conforme celebre pensador inglês.
        Embora não cultivado. Alibert amava e lia os bons autores, principalmente franceses, e os interpretava e assimilava. Provocando-o, às vezes, em nossos colóquios íntimos, recitava-me ele belas estrofes de Hugo, de Moliere, de Racine, de Boileau, com emotividade e vigor. Teve mais esta virtude: soube conservar em seu coração uma alegria sã, comunicativa e confortante: era um causer adorável na roda dos íntimos, daqueles que ele sabia selecionar pelo coração.
       Quantas vezes, de sérias e torturantes cogitações pelas injustiças do mundo, ele, com a sua experiência, com a sua amizade, afastou meu espirito! E sempre concluía:
        "Mon cher ami, le monde est la pour vie: quoique bele et parfait qu'ele nous semble, ele n'a qu'un petit coin sans tache".

* - * - *

        Deus da Misericórdia, Deus do Amor, Deus da Justiça, recebe no seio de tua graça o peregrino que se foi para o Além, nas asas vigorosas da Fé, molhado de nossas lágrimas, confortado de nossas preces!


Mr. FIRMINO ALIBERT
Merces Carneiro.

        De uma invejável resignação evangélica, já em idade bastante avançada que lhe exigia, por certo, o repouso, o descanso, satisfeito sobre os louros de tantos trabalhos e os feitos das suas tantas liberalidades; depois de viver vida abastada de proprietário e de capitalista, e vida honrada e superior que desfrutou no seio da mais seleta sociedade de estadistas e homens de letras do Brasil, sujeitou-se o Comendador Alibert a uma colocação humílima, a um posto inferior de porteiro do Grupo Escolar de Bicas, cargo que desempenhou,entretanto, com grande atividade, rodeado da máxima consideração pública, é verdade, mas também com a inteirês de caráter que lhe valeu a respeitosa amizade e por assim dizer o mais especial acatamento de Diretores e professores que foram e os que são daquele próspero estabelecimento de ensino;         valeu-lhe mais que tudo o castigo angélico de um culto de adoração que lhe tributava toda aquela meninada traquinas de quem o bom velhinho se dizia avô.
        Seus últimos dias foram, pois, de tão grata e saudosa lição de civismo, como no-la poderia deixar nos anais de um instituto de educação somente um educador convicto como ele o fora sem livro nem preleções, da sua especial vocação e da sua sublime missão.
      Eis-nos agora de posse dos mais brilhantes testemunhos do seu espírito e do seu coração, que o infortúnio tentou e não conseguiu aniquilar, coração grande e grande espirito que o pranteado consagrou cada vez, com mais fervor aos seus amigos, à sociedade, à família e à meninada que ele tanto amou.
        Que homem! Que cidadão! Que caráter!
        Viveu inatacável. Serviu a Deus. Morreu feliz.


ALIBERT
C. de O. P.

        Conheci-o pela vez primeira, quando a verdade vinha surgindo pouco a pouco, deslumbradora e forte, dardejando seus raios, como acicates de fogo, sobre, a figura hedionda da calúnia maquiavélica, que caiu calcinada e pulverizada.
        Falei-lhe pela ultima vez naquele instante de minha vida em que a maldade humana me oferecia ensejo propicio para que eu fizesse apurado estudo de psicologia introspectiva da sociedade hodierna.
        Nessa oportunidade em que apurei o estado sanitário de muitos caracteres, Firmino Alibert destacou-me a insolubilidade do seu caráter de aço, tornando-se grande, tornando-se notável aos meus olhos e á minha observação, na análise psíquica dos homens.
       É que eu via nele a consciência serena de um justo, uma alma de anjo vibrando numa velhice santificada no crisol das mutações da vida.
        Admirei-o em toda a plenitude de sua nobreza de caráter.
        E não sei quando foi maior em sua vida cheia de flores e espinhos, de risos e de lágrimas!...
        Só sei dizer que, si o imortal filósofo da antiga Helade, voltasse á procura de um homem, dir-lhe-ia eu  Ei-lo!
      Grande na dor, grande na alegria, grande no caráter, grande no coração, grande, sobretudo, no amor.
      Amava loucamente seus filhinhos, que eram o encanto salutar da sua velhice acrisolada!
      Amava extremamente sua virtuosa esposa, que lhe suavizava a estrada desalentadora dos que caminham para o ocaso da vida.
        Amava estoicamente a humanidade, de cujas faltas e misérias se compadecia. Tinha para a fraqueza humana um olhar de piedade; em vez de puni-la com a sátira do anátema!
     Nele, porém, culminou o amor da pátria, dessa pátria gloriosa de Victor Hugo, que ele revia, esplendorosa e heroica, através do seu momento histórico. E inflamado desse patriotismo fogoso e sadio, ele pronunciou-me as ultimas palavras que ouvi com admiração : "A França será sempre a França, dando lições ao mundo inteiro".


A MORTE DO VOVÔ
Bicas, 25-X-1915
Irene de Oliveira

(À memória do Comendador Firmino F. Alibert).
    
         Como é triste nosso Grupo!
         E a gente nesta incerteza!
        Olhar p'ra todos os lados
        E não ver o bom Vovô!...
                    Que tristeza!
     
        Colegas, quantas saudades!
        Quanta aflição!...
        Olhar para seu retrato,
        Sentir a dor cruciante
                    No coração!...
      
         Parece que foi um sonho
        Seu trespasse tão sentido!
        Meu coração, ai! dorido,
        Não tem, não tem alegria,
                   Compungido!
      
        De homenagem vero preito
        E ardente veneração
        Prestemos ao bom Velhinho
       Que vagueia, todo instante,
                  Junto de nossa aflição.
 
       Que Deus lhe dê bom lugar,
       Paz e harmonia,
       Enquanto sempre, da terra,
       Lhe diremos: Bom Vovó,
                 Até um dia!


FIRMINO F. ALIBERT
20 de novembro de 1915.
L. de Freitas.

        Homenageemos à memória dos que, na peregrinação pela vida,conquistaram os louros da imortalidade, receberam a sagração dos justos, lutaram em prol da conectividade, em prol da regeneração social. Mas não nos esqueçamos de render, também, o maior pleito de justiça, gloriosa em seu sonho soberano, tributando as nossas saudades e veneração aos que desapareceram do cenário da vida, sob as lagrimas sentidas dos bons, sob soluços de pesar, deixando, em todos os corações, a penumbra da tristeza, da consternação e da dor.
        Ha trinta dias que sumiu para sempre na escuridão do túmulo o bom velhinho. cuja recordação nos anuvia a alma, cobrindo-a com o crepúsculo da saudade.
        A notícia do falecimento de Alibert correu célere, estendendo, em todos os espíritos, um escuro de emoções. É que Alibert foi o cidadão que soube lutar até o momento supremo, até seu ultimo dia, conformando-se sempre com os reveses da vida. Não perdeu um único instante de fazer o bem, porque, além de alma extreme, possuía um coração generoso, caritativo e sincero.
        Ao comendador Firmino François Alibert, o lutador pela cruzada da Virtude, da Justiça e da Honra, ao Velhinho de impoluta memória, a minha homenagem imorredoura.


Jornal "O Guarará", Ano III, N. 151
Guarará, MG - 20/11/1915

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