JOSÉ
FERREIRA DA PAIXÃO E O "COLÉGIO PAIXÃO"
O
Colégio Paixão, em Petrópolis, foi criado em 1871, em substituição ao "Colégio
Calógeras", de João Batista Calógeras, no mesmo prédio em que
funcionara o anterior, à Rua do Palatinado, quase defronte à estação de cargas
da E. F. Leopoldina, anexo à Escola Militar (onde atualmente é
Rua Dr. Sá Earp, esquina da Buarque de Macedo).
A
propriedade havia sido arrendada por João Batista Calógeras ao Prédio
havia sido arrendado ao marquês de Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão e
funcionou de 1850 a 1859. Nessa instituição lecionou grandes nomes da instrução
brasileira, como Ignacio Cochrane que que para lá foi transferido de Nova Friburgo.
Nesse mesmo ano de 1859 o "Colégio Calógeras", passou para
as mãos de Bernardo José Falletti, e passou a denominar-se "Colégio
Santa Teresa". Este colégio funcionou até 1863 e em 1868, o
padre João de Siqueira Andrade, ali fundou a "Escola Doméstica de
Nossa Senhora do Amparo".
E,
em 1871, ali passou a funcionar o "Colégio Paixão",
fundado e dirigido por José Ferreira Paixão e a esposa e a esposa dona Maria
Augusta Paixão, renomados educadores. O colégio manteve suas atividades até
1891. (Cf. Lacomb E, Lourenço
Luiz — Cidade de Petrópolis, p. 231, ed. Museu Imperial, Petrópolis)
O
casal José Ferreira da Paixão (1838-1908) e Maria Augusta teve os seguintes
filhos:
-
Ernesto José
Ferreira da Paixão - Médico, humorista, jornalista e poeta, (
Jornal "Correio de
Petrópolis", 25 de dezembro de 1913) nasceu em 25 de dezembro
de 1866, em Petrópolis, onde morreu em 14 de janeiro de 1922. Médico
homeopata e um dos principais divulgadores da homeopatia. Dirigiu o Hospital
Santa Teresa e a Secretária da Saúde, dedicando-se aos enfermos sem distinção
de classe ou posição social. Atuou na campanha pela abolição do elemento
servil. Foi membro (sócio) e titular da cadeira nº 35 da "
Academia
Fluminense de Letras", cujo patrono era Teixeira de Melo, entre os
anos 1919 e 1922; patrono da cadeira nº 6 da "
Academia Petropolitana
de Letras"; patrono da cadeira nº 18 da "
Academia
Brasileira de Poesia - Casa de Raul de Leoni" (onde outro membro
da família:
Henrique
Paixão Júnior, figura como o patrono da cadeira nº 22). Colaborou em
diversos jornais, como "
O Pharol", de Juiz de Fora;
"
Gazeta Literária" e "
Gazeta de Petrópolis",
em sua terra. Usava o pseudônimo Flávio Marciano na imprensa local. (
© 2014 - Academia Brasileira de Poesia -
Casa de Raul de Leoni.). Casou-se com Maria Augusta Ferreira da
Paixão.
-
Cecília Ferreira da Paixão; falecida em 1897
-
Henrique Ferreira
da Paixão; Engenheiro;
-
Carlota Ferreira da Paixão (nome de casada Carlota Paixão Ferreira da
Costa). Carlota era uma notável musicista, recebera a sua recebera a sua
formação musical com Bernhard Wagner, professor de piano e canto. Além de
contralto, de notável tessitura, ela executava o órgão, piano e harmônio
esplendidamente. Era ela sempre requisitada para as festividades, festas
diversas, saraus, comemorações e apresentações sinfônicas. Casada em 19 de
setembro de 1889, com o farmacêutico e Vice-cônsul de Portugal, Galdino
Ferreira da Costa (falecido em
12 de abril de 1931), ela veio a morrer meses depois, em 11 de julho
de 1890, aos 24 anos de idade, sem deixar descendentes. Em sua homenagem a
"Ave Maria", op. 51, composta pelo Visconde de Taunay, sob o
pseudônimo de Flavio Elysio, tantas vezes por ela cantada, com o acompanhamento
de violino e harmônio, foi batizada de "Ave Maria de Carlota Paixão";
O cronista de o "Gazeta de Petrópolis", na edição de 11 de maio de
1901, qualifica a voz de Carlota como límpida, pura e suave e assegura que uma
outra voz, não haveria de equiparar-se à sua interpretação da Ave Maria do
Visconde de Taunnay, com o mesmo sentimento de religião e piedade com que ela
dava à sua interpretação, fazendo jus à melodia que era bela e cheia de unção
religiosa. E, em sua "crônica" ainda emenda:
"-
Estamos no mês de maio; o mês das camélias, o mês de Maria.
Precisamente
no dia de hoje fazem quatorze anos que o saudoso Visconde de Taunay fez cantar,
pela sempre lembrada D. Carlotinha Paixão, com acompanhamento de harmônio e
violino, a Ave Alaria de sua composição, “várias vezes interpretada no mês de
Maria (maio) de 1887, na matriz de Petrópolis, pela exímia e inolvidável
amadora, com tal inspiração e maestria, que deixou a mais funda impressão em
quantas a ouviram, mestres e admiradores de seu peregrino talento.”
Acompanhava-a
ao harmônio a baronesa de Muritiba [Maria José Velho de Avelar], e ao violino
[o cubano José] White.
São
passados os anos, e ainda na nossa matriz não foi cantada essa bela página
musical do Visconde de Taunay, que é conhecida pela Ave Maria de Carlota Paixão.
Ainda
guardamos, como sons perdidos em nosso ouvido, as notas melodiosas, doces,
aveludadas emitidas pela garganta privilegiada de nossa saudosa conterrânea,
falecida aos 24 anos e tendo deixado de seu nome uma recordação, que todos
guardam com carinho, pois que se lembram ainda daquele belo tipo de moça,
sempre na vanguarda de todas as obras de caridade."
OBS: Outros autores (a
maioria esquecidos), além de Flávio Elysio, Antônio de Carlos Gomes e o Padre
José Maurício Nunes Garcia, igualmente compuseram suas Aves Marias em terras
brasileiras, foram eles: Libório Gomes Moreira, Remígio Domenech, José White,
Júlio Reis, Frederico do Nascimento, Carlos Severiano Cavalier Darbilly,
Henrique Oswald, Alberto Nepomuceno, Alberto Nepomuceno, Agostinho Luís de Gouvêa,
Marieta Neto, Domingos José Ferreira, Antônio Francisco Braga, Iwan d'Hunac,
Antônio Ferreira do Rego, Arnaud Duarte de Gouvêa, Robert Jope Kinsman
Benjamin, Vincenzo, Cernicchiaro, Dagmar Matoso Chapot-Prevost, Abdon Filinto
Milanez, Manoel Augusto de Medeiros Senra, Bernhardt Wagner, Rafael Coelho
Machado, Alfredo Ângelo, Gennaro Arnaud, José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita,
José Alves da Trindade, Sigismund Neukomm, etc;
-
Luiz Ferreira da
Paixão. Luiz estudou na "Ginásio Petrópolis", por esta época (1910), editou com outro aluno do mesmo colégio, Gustavo Fonseca, ambos redatores, o jornal "A Pátria", a partir de 15 de maio de 1910, que estampava notícias diversas e literatura. (Jornal "O Ginasial", ANO 1, N. 4, Petrópolis, 22 de maio de 1910, pg 4). Nos meses que se seguem, em julho, mais apropriadamente, Gustavo Fonseca retira-se da redação do jornal. Luiz entra em acordo com o jornal "O Correio do Alto", e dá-se a fundição dos dois periódicos em um só, sob o nome do primeiro, "A Pátria", sob a direção de Rodrigo Capela, redator-chefe. Luiz depois, mais tarde, tornou-se médico na Ilha do Governador, primeiro-tenente da armada e cunhado
do engenheiro da Inspetoria de Obras Públicas, Dr. Hermógenes Vale de Almeida
(casado com sua irmã Maria Eugênia da Paixão) e sogro do advogado e comissário
de polícia Gilberto de Paiva Lacerda (Filho do Dr. Edmundo de
Lacerda e Elvira Paiva de Lacerda. Gilberto morreu de um enfaro, em 30/09/1963,
aos 62 anos). Luiz era casado com Dalila Costa. Eles foram pais de 4 filhos.
Luiz morreu em 2 de julho de 1934;
-
Justino Ferreira
da Paixão; Engenheiro
-
Rafael Ferreira
da Paixão; Engenheiro
-
José Ferreira da
Paixão Filho; Casado com Etelvina Alves Guerra (Depois Etelvina Guerra
Paixão). Foi advogado e Juiz de Direito em Minas Gerais, nas cidades de Grão
Mogol, Manhuassu, Diamantina e Três Corações. Tiveram os filhos: Maria Luiza
Guerra da Paixão; José Guerra da Paixão; Mário Guerra da Paixão (ex-prefeito de
Diamantina); Luís Guerra da Paixão e Paulo Guerra da Paixão;
-
Maria Eugênia da
Paixão. Casada com o eng. Hermógenes Vale de Almeida. Nome da casada, Maria
Eugênia Vale de Almeida;
-
Clotilde Ferreira
da Paixão;
-
Júlia Ferreira da
Paixão
Á MINHA IRMÃZINHA
CLOTILDE
Ri, criança, a vida é
curta,
A vida dura um
instante;
Depois o cipreste
esguio.
Mostra a cova ao
viandante,
Casimiro de Abreu -
Primaveras.
Deleitam-te,
criança, os brincos infantis,
A
névoa de um pesar não turva o teu viver;
Ainda
não foi dado ao goivo florescer
Aos
teus pequenos pés; por isso tu sorris.
Em
lânguido abandono os teus dias gentis
Tu
passas, minha irmã, e tudo te é prazer...
Ai!
folga, sim, criança! Ai! folga! e que o sofrer
Nos
lábios teus não creste os risos pueris.
A
lei do mundo é dura! É lei cruel, severa:
Aos
brincos do hoje opõem-se as mágoas d'amanhã
A
vida é sonho... não, a vida é uma quimera!
Assim....
folga, criança! Ah! ri-te, minha irmã!
E
que seja amadora a tua primavera,
Que,
sob eterno azul, tu vivas, flor louçã!
Ernesto Paixão.
MUSA RATIONIS
A raiz—boca da—Vida
Mama nas tetas
da—Morte
Guerra Junqueiro.
Força
e matéria: eis tudo! Essa, que dizem,
Divina
essência e que no corpo existe
A
dar-lhe movimento, a dar-lhe vida
É
mera criação da fantasia,
Da
monte imaginosa do poeta
Por
continuas visões enlanguescida!
A
alma é pura ficção! A vida existo
Enquanto
reagir pode a matéria
Contra
uma força oposta ao movimento!
É
esta a vida! Um’outra não conheço,
Diz-m’o
a ciência audaz, diz-m’o a razão,
Diz-m'o
o sentir e sente o entendimento!
Oh!
almas que viveis embevecidas
Nossa
ilusão dourada, e que esperais
N’uma
outra vida a felicidade achar,
Dessa
quimera doce, desse engano,
Dessa
ilusória crença em que viveis
Meu
rude canto não vos quer tirar!
Respeito
a crença como um Deus respeito
Como
a pobreza, a viuvez, o pranto,
E
como a anciã voraz de um coração;
Tirar-vos-ia
da mente equivalera
A
negar ao faminto angustioso
Uma
migalha mínima do pão?
Vós
que dela viveis, bem sei, sofreis
Menos
as mágoas que o viver nos dá,
Menos
a dor sentis!
Eu
também, como vós, tive essa crença
Mas
dos males o estudo demonstrou-me
Que
quanto me iludi, vos iludis!
Vivei
com vossa crença: eu não; não posso!
Vendo
a matéria inerte eu sei a causa
Dessa
falta de vida - o movimento!
Para
vós foi a alma a Deus subida,
Para
mim foi a força que extinguiu-se,
Como
se fora a luz, em um momento!
Na
eternidade da matéria eu creio:
Se
o vegetal nos nutre, nós nutrimos
A
terra onde ele vive!
É
esta a realidade e, no entretanto,
Eu
quisera viver inda no gozo
Dessa
crença que tendes e que tive!
Porém,
na—Eternidade—essa que vós
Contais
fruir nesse infinito - O céu,
Nessa
mansão de gozos mitológica!?
Nossa...
não creio, não: porque é mentira;
Nessa
não creio, que a condena in totó.
Essa
energia tríplice da lógica.
Ernesto Paixão.